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Eletrodeionização (EDI/CEDI)

Eletrodeionização (EDI/CEDI): parâmetros operacionais, dimensionamento, qualidade ultrapura. Dados reais para engenheiros. Tabelas, FAQ e troubleshooting.
Por: Dafratec | Em 18/06/2025 | Termo
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Guia Técnico Completo: Eletrodeionização (EDI/CEDI)

Introdução à Tecnologia EDI

A eletrodeionização (EDI) ou eletrodeionização contínua (CEDI) representa uma evolução significativa nos processos de desmineralização de água, combinando princípios de troca iônica e eletrodiálise para produção contínua de água ultrapura. Esta tecnologia híbrida utiliza corrente elétrica contínua para promover a regeneração eletrolítica das resinas de troca iônica, eliminando a necessidade de produtos químicos para regeneração e possibilitando operação 24/7 sem interrupções.

Princípios Eletroquímicos Fundamentais

O processo EDI baseia-se na aplicação de campo elétrico através de um conjunto de membranas seletivas e compartimentos preenchidos com resinas de troca iônica. A dissociação eletrolítica da água ocorre no ânodo, gerando íons H⁺ através da reação 2H₂O → O₂ + 4H⁺ + 4e⁻, enquanto no cátodo a reação 2H₂O + 2e⁻ → H₂ + 2OH⁻ produz íons OH⁻. Estes íons migram através das membranas seletivas, regenerando continuamente as resinas catiônicas e aniônicas nos compartimentos de diluição.

A força motriz do processo é o gradiente de potencial elétrico, que promove a migração iônica através das membranas com seletividade superior a 95%. As membranas catiônicas, baseadas em grupos funcionais sulfônicos, permitem exclusivamente a passagem de cátions, enquanto as membranas aniônicas, contendo grupos amônio quaternário, são seletivas para ânions.

Configuração e Componentes do Sistema

Estrutura do Módulo EDI

O módulo EDI consiste em um empilhamento (stack) de pares célula-membrana, tipicamente variando de 10 a 600 pares dependendo da capacidade requerida. Cada par célula inclui:

  • Compartimento de diluição (6-10 mm de espessura) preenchido com resinas mistas
  • Compartimento de concentração para descarte de íons removidos
  • Membranas catiônicas e aniônicas alternadas
  • Eletrodos de titânio revestido com óxidos metálicos nos extremos

Especificações Técnicas Operacionais

Parâmetro Faixa Típica Unidade
Densidade de Corrente 20-40 A/m²
Voltagem por Par Célula 1,2-1,8 V
Corrente Total do Sistema 10-200 A
Pressão de Operação 2-4 bar
Perda de Carga < 0,5 bar
Eficiência de Corrente 85-95 %
Consumo Energético 0,8-1,5 kWh/m³

Parâmetros de Qualidade da Água

Requisitos da Água de Alimentação

A qualidade da água de alimentação é crítica para performance adequada do sistema EDI. A água deve ser pré-tratada por osmose reversa para atender as seguintes especificações:

  • Condutividade: ≤ 20 μS/cm
  • SDI (Silt Density Index): < 3
  • Cloro residual: < 0,05 ppm
  • Temperatura: 15-35°C
  • pH: 6,5-8,5
  • Turbidez: < 0,1 NTU

Qualidade da Água Produto por Aplicação

Aplicação Resistividade (MΩ·cm) Condutividade (μS/cm) Parâmetros Específicos
Farmacêutica (WFI) > 1,3 < 0,77 COT < 500 ppb, Endotoxinas < 0,25 EU/mL
Semicondutores > 18 < 0,056 Sílica < 1 ppb, Partículas < 50/mL
Energia (Caldeiras) > 5 < 0,2 Sílica < 20 ppb, Dureza < 1 ppm
Laboratórios > 10 < 0,1 Metais < 10 ppb, Bactérias < 10 CFU/mL

Dimensionamento e Configurações

Critérios de Dimensionamento

O dimensionamento de sistemas EDI baseia-se nos seguintes fatores técnicos:

Carga Iônica da Alimentação: Calculada através da condutividade específica e concentração de íons individuais. A capacidade de remoção varia de 10-50 kg/h de NaCl equivalente por módulo.

Fluxo Específico: Produção típica de 10-25 L/h por m² de área de membrana, dependendo da aplicação e qualidade requerida.

Taxa de Recuperação: Sistemas EDI operam com recuperação de 85-95%, sendo limitada pela concentração máxima permitida no compartimento de concentração (tipicamente 2000-5000 μS/cm).

Configurações de Sistema

Passe Único: Aplicação direta para resistividades até 10 MΩ·cm, adequada para maioria das aplicações industriais.

Duplo Passe: Configuração em série para resistividades superiores a 15 MΩ·cm, essencial para semicondutores e aplicações críticas.

Configuração Mista: Combinação EDI + polimento por resinas convencionais para aplicações especiais com requisitos de remoção de compostos orgânicos específicos.

Performance e Monitoramento

Indicadores de Performance

O monitoramento contínuo dos seguintes parâmetros é essencial para operação otimizada:

Parâmetros Elétricos: Voltagem total do stack, corrente por módulo, resistência específica. Aumento gradual da voltagem indica fouling ou degradação das membranas.

Parâmetros Hidráulicos: Diferencial de pressão através do módulo, fluxos de produto e rejeito, temperatura de operação.

Qualidade da Água: Condutividade/resistividade em linha, pH, sílica, COT conforme aplicação específica.

Vida Útil dos Componentes

Componente Vida Útil (anos) Fatores Limitantes
Membranas 3-7 Qualidade da água de alimentação, fouling
Eletrodos 1-3 Densidade de corrente, qualidade da água
Resinas Indefinida Regeneração contínua eletrolítica
Vedações 2-5 Temperatura, pressão, produtos químicos

Vantagens Técnicas Comparativas

Comparação com Tecnologias Convencionais

EDI vs. Leitos Mistos Convencionais:

  • Eliminação de regeneração química (100% de ácido/base)
  • Redução de efluentes de neutralização em 90-95%
  • Operação contínua sem ciclos offline
  • Menor variabilidade na qualidade do produto

EDI vs. Destilação:

  • Consumo energético 60-80% menor
  • Eliminação de vapor e condensado
  • Menor pegada de carbono
  • Operação a temperaturas ambiente

Manutenção e Troubleshooting

Protocolos de Limpeza CIP

Limpeza Ácida: Ácido cítrico 0,5-2% a 40°C por 2 horas para remoção de incrustações minerais e metais.

Limpeza Alcalina: NaOH 0,1-0,5% a 40°C por 1 hora para remoção de fouling orgânico e biológico.

Limpeza Salina: NaCl 5-10% para regeneração das resinas e remoção de compostos orgânicos fracamente ionizados.

Principais Problemas Operacionais

Aumento da Condutividade: Indica fouling, polarização de membranas ou danos estruturais. Diagnóstico através de análise da voltagem por par célula.

Queda de Fluxo: Causado por fouling orgânico ou precipitação mineral. Requer ajuste dos parâmetros de limpeza CIP.

Aumento de Voltagem: Resultado de aumento da resistência por degradação das membranas ou acúmulo de contaminantes.


FAQ Técnico

Qual a diferença prática entre EDI e CEDI?

Não há diferença técnica. CEDI (Continuous Electrodeionization) é a denominação internacional que enfatiza a operação contínua, enquanto EDI é mais utilizada no Brasil. Ambos referem-se ao mesmo processo.

Por que a água de alimentação deve ter condutividade ≤ 20 μS/cm?

Condutividades superiores resultam em altas densidades de corrente (> 50 A/m²), causando polarização de membranas, formação de precipitados e degradação acelerada dos componentes.

É possível operar EDI sem pré-tratamento por osmose reversa?

Tecnicamente possível, mas não recomendado. A ausência de RO resulta em fouling acelerado, maior consumo energético e vida útil reduzida das membranas em 70-80%.

Como calcular o consumo energético real de um sistema EDI?

Consumo (kWh/m³) = (Voltagem total × Corrente × Horas) / (Fluxo de produto × 1000). Incluir consumo de bombas e instrumentação para cálculo total.

Qual a concentração máxima de sílica removível por EDI?

A remoção de sílica é pH-dependente. Em pH < 7, remoção limitada a 70-80%. Em pH > 8, remoção superior a 95% é possível devido à ionização do ácido silícico.

Por que sistemas EDI requerem desgaseificação de CO₂?

CO₂ dissolvido forma ácido carbônico, aumentando a condutividade da água produto. Para resistividades > 10 MΩ·cm, desgaseificação é essencial para atender especificações.

Como identificar danos nas membranas durante operação?

Monitoramento da voltagem por par célula. Valores > 2,0 V indicam problemas. Teste de integridade com traçador iônico (NaCl) confirma vazamentos através das membranas.

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